Ali na Rua Paula Gomes com a Duque de Caxias, na tradicional esquina de muro laranja com um lambe-lambe do Garrincha, um cartaz chamou a atenção durante a semana: “Sob nova direção”. Será que depois de 20 anos O Torto Bar vai encerrar as atividades?

Arlindo Ventura, o Magrão, deu risada no telefone com a suposição. Afinal, o Rango Barateza ligou para saber se de fato a mudança de direção aconteceu. Nos últimos dias, O Torto esteve de portas fechadas, o que causa ainda mais suspeita. “O cartaz eu acabei deixando, é engraçado. Eu peguei férias, consegui fazer uma viagem pós-pandemia. A primeira que eu tive desde 2020. Consegui tirar uns dias de descanso. Agora, me falaram sobre o cartaz. É uma brincadeira dos amigos. A minha vida tá aqui, não vou me mudar”, garante ele.

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Magrão diz que não liga, que a turma pode brincar a vontade. A piadinha começou depois do empresário ar um tempo fora, em viagem. Foram alguns dias no Rio de Janeiro, outras em São Paulo. Foi visitar as filhas do Garrincha, descansar. “A gente pretende retornar na semana que vem. Não vou vender o bar, até porque minha vida tá aqui. Só se acontecer algum problema, porque o amanhã a Deus pertence”, confidencia.

O Torto Bar é um dos poucos lugares em Curitiba que tem alma de botequim. E embora o Magrão não recorde do rosto de todos os clientes que já aram pelo O Torto, os clientes do O Torto certamente sabem quem é o Magrão. Não tem como dissociar uma coisa da outra. Até parece que, num dia sem o Magrão no Torto, o boteco fica diferente, meio brocochô.

Foto: Tribuna do Paraná.

Quem conhece a vida boêmia da região aos redores da Trajano Reis já tomou pelo menos uma cervejinha no Torto. Quem dançou no Paradis alguma vez pode ter aproveitado para fazer o esquenta da balada ali no botequim. Pode ser que você tenha ido visitar só para uma cerveja mesmo com os amigos, para bater papo.

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Em algumas vezes que estive no bar, presenciei o Magrão brincando com a turma. Uma vez, ele resolveu fazer algo diferente. Brincou com um microfone, posicionou no colarinho da camisa, e imitava os trejeitos do Silvio Santos. Teve aviãozinho de dinheiro, brincadeiras de bar e muitas risadas da turma.

“Eu não tinha pretensão de ser um imitador. As pessoas que não me conheciam, acharam aquilo especial. Foi assim, uma forma diferente de se comunicar com o público”, revela.

A conexão que acontece no Torto é curiosa mesmo. Quase como uma trindade, em que o bar, o Magrão e a turma toda formam ali entre as poucas cadeiras e a mesa de sinuca. Coisa de botequim, coisa de brasileiro.

“Eu viajei para São Paulo, para o Rio. Nós temos um espaço aqui que não encontramos em outro lugar, eu até me emociono. Deus me proporcionou ter um lugar como esse, as pessoas só não interagem no bar se não quiser. É incrível isso”, explica Magrão, um pouco também sem entender porque a magia toda acontece.

Estar dentro de um espaço, de um botequim, que você se sente parte, é raro. “É algo marcante”, ressalta o dono do bar.

O famoso bolinho de carne do Torto Bar. Foto: Alexandre Mazzo / arquivo Gazeta do Povo.

E o rango?

Cheguei até aqui, contei um pouco da atmosfera do bar, que fez toda a introdução para o petisco mais famoso do bairro São Francisco: o clássico bolinho de carne do Torto. Ele é a companhia certa para uma cervejinha que você toma com os amigos, de preferência sentado no meio-fio da Rua Paula Gomes.

Vou confidenciar uma coisa. Se tem vezes que sinto vontade de um bolinho de carne, o sabor mais marcante que me vem na memória é do bolinho de carne do Torto. Não sei qual o segredo dele, o borogodó todo, mas tem algo nesse bolinho que faz a gente lembrar dele quando bate uma saudade de boteco.

É um bolinho simples, tamanho pequeno, e custa R$ 7. Preço honesto pelo sabor e qualidade. Ao chegar no balcão, você pode pedir diretamente ao Magrão um bolinho, que é frito na hora sempre que possível. Na pressa, alguns ficam quentinhos na estufa.

“Faço bolinho como se fosse a primeira vez”

Qual o segredo do salgado do Torto? Perguntei qual era a magia toda por trás do bolinho de carne e ele me contou uma história. Em 2008, numa das viagens que fez para São Paulo, foi visitar um de seus maiores ídolos, “depois da mãe da gente, de Deus e do Garrincha”, deixou claro. Era Zé Bettio, o locutor de rádio.

“Um dia na Rádio Record, encontrei Gil Gomes. E vi ali duas pessoas que iro: GIl Gomes e Zé Bettio. Eu não acreditava no que estava vendo ali. Aí, perguntei para o Gil Gomes: ‘como é fazer rádio"M627.409,331.563L512.604,306.07c-44.69-9.925-79.6-46.024-89.196-92.239L398.754,95.11l-24.652,118.721 c-9.597,46.215-44.506,82.314-89.197,92.239l-114.805,25.493l114.805,25.494c44.691,9.924,79.601,46.024,89.197,92.238 l24.652,118.722l24.653-118.722c9.597-46.214,44.506-82.314,89.196-92.238L627.409,331.563z"/>