Na região central de Curitiba, especialmente nas proximidades da rodoviária, é comum ver pessoas vivendo sob pontos de ônibus e marquises. Para quem mora ou trabalha nessa área, a insegurança vai além da quantidade de pessoas em situação de rua em frente a comércios e prédios, chegando à sujeira e falta de higiene. Ruas têm se transformado em verdadeiros banheiros a céu aberto.
Sem banheiro para as necessidades mais básicas, fica evidente onde as pessoas em situação de rua se aliviam. Pelas ruas do Centro, o mau cheiro virou um problema permanente, apesar da abertura do FAS-SOS (Centro Intersetorial de Atenção a Pessoas em Situação de Rua), na esquina da Rua Dr. Faivre e Avenida Affonso Camargo, em março de 2024. No local, a prefeitura oferece acolhimento pernoite, banheiro, banho entre outros.

“O mau cheiro está ainda mais forte do que antes. As pessoas continuam fazendo as necessidades a céu aberto, enquanto tem gente ando nas ruas. Temos que lavar urina nas portas quase todos os dias e já tivemos que juntar fezes. É terrível”, comentou um comerciante da região para a reportagem da Tribuna.
A população de rua que mora na região poderia ir até o local para fazer as necessidades, mas uma grande parcela ainda resiste em utilizar o FAS-SOS por causa da hostilidade da segurança. “Eles não gostam que a gente vá até lá, ficam apressando, são agressivos. Não somos tratados como gente”, detalhou um jovem que reside nas marquises da Dr. Faivre.
Para uma moradora da região, que não quis se identificar, a intenção da Prefeitura é boa, mas não tem o resultado desejado. “É um problema de saúde e política pública, tem que ter um olhar maior para a população em situação de rua, não dá pra tratar apenas os sintomas. Enquanto isso, sofremos com a violência e a falta de higiene.”
Violência incomoda
“Eu amava morar ali, tem tudo perto, mas chegou em um ponto que não dava mais para andar na rua. Um dia eu estava indo no Mercado Municipal no horário do almoço e tentaram roubar minha mochila. Não é que acontece sempre, mas acontece muito para uma região que não deveria acontecer. Tive que me mudar porque estava cansada, comecei a ficar paranóica”, relata uma ex-moradora da Rua Átilo Bório.

A combinação do uso de entorpecentes e álcool é apontada por especialistas como o grande potencializador da violência. As drogas, lícitas ou não, são usadas como forma de minimizar os problemas de residir nas ruas, como a fome e o frio, mas também como modo de socialização.
“As ameaças são constantes, eles acham que temos a obrigação de fazer doações. No período que o restaurante está aberto presenciamos muitos roubos e furtos na região. Temos um segurança particular, mas apenas para o período noturno. De dia, tentamos o diálogo, o que tem sido muito difícil”, detalha o dono de um estabelecimento na Avenida Presidente Affonso Camargo que preferiu não se identificar.