Escolhida pela Universidade de Oxford, a palavra do ano, “Brain rot” (em tradução livre, “cérebro apodrecido”), retrata uma das consequências do consumo excessivo de informações no ambiente digital. Com as redes sociais oferecendo conteúdos instantâneos e de forma rápida, muitos jovens da Geração Z têm buscado atividades offline como forma de reconexão com o mundo real.
Uma das maneiras de alcançar esse equilíbrio tem sido resgatar atempos praticados por pais e avós nas décadas adas. Em 2025, hábitos considerados “coisa de velho” voltaram à moda. Confira três desses a seguir:
Câmeras antigas e análogicas
Impulsionadas por influenciadores no TikTok, câmeras da era pré-smartphone, tanto digitais quanto analógicas, ganharam novo prestígio. Modelos populares nos anos 2000, como as câmeras Sony cyber-shot, podem ser encontrados em marketplaces como OLX ou Enjoei, com preços variando entre R$ 70 e R$ 650.
Para o designer Leandro Andrade Junior, de 22 anos, o bombardeio de informações nas redes e o contexto global vivido na pandemia de Covid-19 contribuíram para essa espécie de retorno ao ado. “A saída mais natural foi revisitar a memória e encontrar conforto na nostalgia”, afirma.
Adepto da tendência, ele começou a se interessar pela fotografia analógica durante a pandemia. Junto ao avô, adquiriu uma câmera Olympus Trip 35 e alguns rolos de filme, buscando registrar momentos de uma forma diferente, já que o números cliques é limitado ao rolo do filme. “Na fotografia analógica, você precisa sentir que quer registrar aquele momento”, comenta ele.

Crochê e costura
Ponto corrido, alinhavo, ponto de manta e ZigZag deixaram de ser práticas exclusivas das avós. Influenciado pelo movimento “Do It Yourself” (faça você mesmo), que ganhou força durante a pandemia, o interesse de jovens por costura, crochê e tricô também aumentou.
Em dezembro de 2024, a Singer Brasil, referência em máquinas de costura, revelou em uma pesquisa que 37% de seus clientes tinham entre 18 e 34 anos, superando a faixa de 35 a 44 anos (20%). Leticia Nascimento Bedin, de 22 anos, começou a crochetar tentando reproduzir roupas vistas na internet, utilizando técnicas aprendidas com familiares.
Influenciada pelo movimento “Do It Yourself” (faça você mesmo), que ganhou força durante a pandemia, o crochê é uma liberdade para Leticia. “É tão legal você poder usar algo e alguém falar: ‘Nossa, que bonito!’, e você falar: ‘Fui eu que fiz’. O mais interessante no crochê é que você pode fazer do jeito que quiser, e, se você não gostar, é só desmanchar, arrumar e fazer de novo”, conta.
Mais do que uma atividade manual, o crochê é uma maneira de ar o tempo. Formada em Design de Moda, ela costumava crochetar no trajeto de ônibus até a universidade. A busca por exclusividade e liberdade criativa levou o hobby a outro patamar. Em 2022, fundou a marca ANALU em parceria com a avó, que ajudava a confeccionar as peças a partir dos modelos idealizados por Leticia.
Jogos de tabuleiro

Em 2024, segundo a Associação Brasileira de Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), os jogos de tabuleiro aram a representar 13,1% das vendas do setor no Brasil. Esse crescimento reflete o desejo dos jovens de retomar os encontros presenciais com amigos e colegas após o fim da pandemia.
Com essa motivação, Lucas Soares, de 26 anos, colecionador desde 2017, costuma reunir os amigos para noites dedicadas às partidas. A lembrança do tempo de qualidade com a família foi uma das influências para manter a paixão pelos jogos. “Aqui em casa sempre preparamos um jantar, ouvimos música e colocamos a conversa em dia. Acaba virando um evento”, conta.
Para Viktoria Rakucki, de 25 anos, também entusiasta dos jogos, a tendência se destaca porque a Geração Z está entrando no mercado de trabalho e busca investir em atempos que remetem à infância. O interesse é evidente no tempo dedicado às interações. “As partidas podem durar alguns minutos ou algumas horas, dependendo do jogo”, explica.
