Após troca de acusações pelas redes sociais, o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) aceitou o desafio do presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), deputado Ademar Traiano (PSD), para apresentação de antecedentes criminais e compareceu no final da manhã desta sexta-feira (18) ao Tabelionato Bacellar, em Curitiba (PR). O deputado estadual, que confessou ter recebido propina e foi beneficiado por um acordo com o Ministério Público do Paraná (MP-PR), homologado pelo Poder Judiciário, não foi até o cartório.
O confronto entre o senador e o presidente da Alep começou após Moro usar o plenário do Senado para comentar o enfraquecimento do combate à corrupção no país e citar o caso do deputado do PSD, aliado do governador Ratinho Junior (PSD), como exemplo da contaminação das esferas estaduais. “O senhor Ademar Traiano foi pego em áudios, pedindo suborno, pedindo propina a um empresário. E o que é pior, o deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa, fez com o Ministério Público do Paraná um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP). Ele itiu, mas pasmem, ele continua no exercício do mandato de deputado estadual e no cargo de presidente da Assembleia”, discursou Moro.
“Eu atribuo essa situação específica ao clima generalizado de vale-tudo no país, que tomou conta do país desde o retorno do Lula à Presidência da República, desde que se abandonou a prevenção e o combate à corrupção. Quem faz isso tem condição de ocupar o nobre cargo de legislador do estado do Paraná e presidente da Casa?”, completou.
Em nota, Traiano rebateu o senador e defendeu a legalidade do acordo com o MP-PR, homologado pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Segundo as investigações, o presidente da Alep e o ex-deputado Plauto Miró receberam R$ 100 mil cada um para renovação de um contrato para prestação de serviço na TV Assembleia.
“Como ex-juiz federal, o senhor deve (ou, pelo menos, deveria) ser um profundo conhecedor do ordenamento jurídico e, portanto, entende que o Acordo de Não Persecução Penal é um instrumento legal, criado justamente para promover soluções consensuais e céleres em casos de menor gravidade. Cabe lembrar que esse instrumento, utilizado por mim, foi introduzido na legislação por iniciativa de Vossa Excelência, quando ocupava o cargo de ministro da Justiça”, respondeu Traiano.
O presidente da Alep ainda acusa Moro de responder processos no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o senador é réu por calúnia contra o ministro Gilmar Mendes. “Faço um convite ao senhor: vamos juntos a um cartório, onde posso prontamente apresentar minha certidão de antecedentes criminais e civis, que demonstram minha total ausência de processos. Ao contrário, Vossa Excelência, que atualmente figura como réu em processos no Supremo Tribunal Federal, talvez tenha dificuldades em fazer o mesmo”, desafiou.
Moro cobra posicionamento de Eduardo Pimentel e Cristina Graeml em caso Traiano
Após emissão do documento, Moro aguardou Traiano por cerca de 10 minutos antes de deixar o cartório, onde atendeu a imprensa e cobrou dos candidatos à prefeitura de Curitiba um posicionamento sobre o caso que veio à tona em dezembro do ano ado. À época, o deputado estadual Fabio Oliveira (Podemos) e o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol (Novo) foram dos poucos políticos que cobraram a renúncia de Traiano, além da bancada de oposição da Alep, liderada pelo PT, que não obteve as s suficientes para criação da I da TV Assembleia.
“Eu gostaria de saber qual é posição dos dois candidatos sobre essa situação, se eles concordam ou não, que alguém com essa falta de condições morais para o cargo, permaneça como presidente da Assembleia e com risco de ser presidente da CCJ [Comissão de Constituição e Justiça] no próximo ano. Então, essas posições são importantes e o eleitor quer clareza. A Assembleia não se confunde com a prefeitura de Curitiba, mas é o segundo cargo mais importante do estado”, cobrou Moro, que ainda não declarou apoio a um dos candidatos no segundo turno. Questionado pela Gazeta do Povo, Moro disse que ainda está analisando o seu voto a prefeito.
A Gazeta do Povo procurou a assessoria de imprensa de Ademar Traiano, mas não houve uma resposta sobre a ausência do presidente da Alep no encontro com o senador paranaense, até a publicação deste texto.
As campanhas de Eduardo Pimentel (PSD), que pertence ao mesmo partido de Traiano, e da candidata Cristina Graeml (PMB), não se manifestaram sobre o caso de corrupção na Assembleia até esta publicação. O espaço segue aberto.
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